Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

quinta-feira, novembro 23, 2006

Nelson Magalhães Filho. Da série MULHERES - 2004. Mista s/ papel, 70X50 cm


TEIAS

As lentilhas despedaçam
o rumor dos ciclones
e um funil de algarve
nem sequer colheu almíscar.
As narinas aspiram
até desfalecer em ânsias
a bebida escondida.
Não há tempo que impeça essa dor
de amalgamar as vísceras
onde te guardo como pedras de estanho
onde me queimas e me roubas
o sabor do ácido
a lacerar-me a língua.
Mas onde me esconder
se meu prazer é que
me faças teias?

Gláucia Guerra



6 comentários:

fao Carreira disse...

cavalo é bruxo santo cálido...as vezes penso sobre isso.abrç

Anônimo disse...

É isso mesmo Fao, cavalo também pode ser estrelado. Grande abraço.

Anônimo disse...

A noite é cavalo estrelado/que pasta nos becos do mundo/solene e vagabundo/no rabo anônimo do pecado como disse Luciano Passos.

E a gente aqui cavalgando este louco cavalo bruxosantocalidoestrelado!?

Vestida das teias coloridas de Gláucia Guerra!?

Anônimo disse...

Lita,este poema do Luciano lembra-me nossas viagens desvairadas nas madrugadas do Campo Limpo. Grande abraço.

Anônimo disse...

estupenda essa pintura sr nelson, uma oferenda nas cesuras modernas e a carne um convite de cores e tragedias. é a leitura mais que inerente à pele, antes é o desespero da calmaria a agitar silencios nervosos e impor desordem em mundos de putos cheirosos.
ronaldo braga

Anônimo disse...

estupenda essa pintura sr nelson, uma oferenda nas cesuras modernas e a carne um convite de cores e tragedias. é a leitura mais que inerente à pele, antes é o desespero da calmaria a agitar silencios nervosos e impor desordem em mundos de putos cheirosos.
ronaldo braga