Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Nelson Magalhães Filho. Da Série CONSPIRAÇÕES - 2004. Mista s/ papelão, 100X80 cm

um tordo pousa.
corpo que se vai, deixando a cama vazia
beberei licores terríveis
urinando nas rosas
mascando folhas verdes: abordei o anjo,
mas ele só tinha brilho
de calamidade
constelações carrascas.
o tempo
das saudades já passou
labirintos acobreados
lâminas de isolamento
peito delicado sentindo morte
e centauros.
aquiete-se,
destruir a persistência
dos relógios
que afloram sem cessar.
inferno
prenhe de animáculos.

Nelson Magalhães filho, de A Cara do Fogo

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu poeta mitológico, você não pode divulgar o show de Rogério no seu Blog! Você viu o cartaz?!
Abraços, Wesley

Anônimo disse...

nelsom o mitologico das grecias amanhecidas.
ronaldo braga