Teu cheiro amarfanho durante toda a cidade
e nos dentes postos sobre a mesa
como um escapulário tua lascívia eu pressinto.
Nem a lua nem teus olhos certamente me salvarão deste teu cheiro espesso.
Eu cresci nestas estranhas paragens sem estrelas entre bichos e flores
como se não fossem cobertos pela escuridão.
Apenas arfava um golpe entre o vazio de mim
e a captura de insetos do inferno em teus cabelos.
Em inquietude, me preparo para a dor.

Nelson Magalhães Filho


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos

do mundo."
( Fernando Pessoa: Tabacaria)




Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acretido na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho

terça-feira, setembro 18, 2007

Nelson Magalhães Filho. Série ANJOS BALDIOS, 2006, mista s/ papel craft, 120X105 cm

os amores sempre terminam.
lembro-me de você rasgando pelos olhos
um anjo do senhor.
os amores terminam em sonhos vis
como nas pinturas medievais
e nas labaredas inchadas.
os amores, sempre travessias burlescas.

Nelson Magalhães filho

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Nelson!
Parabéns pelo post e obrigada por add meu link no seu blog!
Bjs e boa semana,
Priscila.

Ruela disse...

muito forte.
bom trabalho.
um abraço Nelson.

L.Reis disse...

...mas apesar de tudo
...sempre travessias
...sempre asas
...sempre voo
os amores
Tanta intensidade feita de breves riscos traçados em raiva. Muito bom!